Resenha do livro: Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Petersen.
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Resenha do livro: Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Petersen.

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Uma análise sobre a relação da geração Millennial com o trabalho, o sucesso, os pais, os filhos e a internet e como todas elas contribuem para o inevitável burnout.

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Resenha do livro: Não aguento não aguentar mais, de Anne Petersen, com tradução de Giu Alonso publicado pela HarperCollins, em 2021.


Não aguento mais não aguentar mais — como os Millennials se tornaram a geração do burnout, de Anne Petersen, apresenta um panorama sócio-histórico dos EUA desde a década de 80, apontando o que arruinou o sonho de sucesso dessa geração. Para fazer pensar e identificar comportamentos de manada que nos prejudicam, sem nem percebermos.


Apesar de apresentar esse cenário nos EUA, é possível traçarmos um paralelo com a realidade no Brasil e nos identificarmos com questões as enfrentadas.


Para situar: Millennials são pessoas nascidas na década de 80 até meados da década de 90, que atualmente estão na faixa dos 30 à 40 anos aproximadamente.


Crises socioeconômicas sempre existiram

Historicamente, cada geração sofreu diferentes crises e problemas sociais e precisou enfrentá-las conforme recursos do seu contexto. Nossos pais, avós, bisavós, evidentemente enfrentaram questões do seu tempo.


Contudo, os Millennials, segundo o estudo de Petersen apresentado nessa obra, tiveram uma quebra significativa entre expectativa e realidade. Os nascidos na era da informação, chegada da internet, evolução de pautas de inclusão e diversidade e acesso a estudo superior, passaram a sonhar com um futuro promissor.


A receita era investir em estudo, trabalhar muito e aproveitar todas as oportunidades — que com certeza iriam surgir.


Contudo, a realidade foi bem diferente.


“Os millennials cresceram em um período promissor, o que fortaleceu a ideia de que aos 30 já estariam profissional e pessoalmente resolvidos e estáveis. Mas, a realidade foi completamente diferente. Entre os sonhadores e trabalhadores de 25 anos, chegaram aos 35 adultos cansados — mental e fisicamente — muitos já tendo sofrido um burnout e repensando sua carreira, descobrindo novos propósitos e objetivos. E o que pode parecer uma crise existencial, nada mais é do que o reflexo de questões do nosso tempo”. Trecho artigo Millennials e a expectativa que não virou realidade | Newsletter Cultivando Equilíbrio.

A formação acadêmica como garantia de futuro

Diferente das gerações anteriores que viam o trabalho apenas como um meio de sobrevivência, os millennials passaram a atrelar o trabalho à realização pessoal.


Podíamos escolher estudar algo do nosso interesse, nos preparando para trabalhar com algo que amávamos. E caso o mercado não tivesse essa posição para nos oferecer, a internet nos permitiria inventar esse lugar, como empresários de nós mesmos.


“Ame o seu trabalho e não terá que trabalhar nenhum dia”, foi a maior mentira que nos contaram, com “Trabalhem enquanto eles dormem”. Ambas, serviram só para nos iludir de que o trabalho poderia ser lucrativo e prazeroso na mesma proporção, numa fórmula perfeita do sucesso.


Além disso, a supervalorização dos estudos como único meio de garantir um bom emprego, fizeram uma geração inteira priorizar a construção de um bom currículo, que nem sempre trouxe o emprego dos sonhos.


“Millennials se tornaram a primeira geração a se definir completamente como currículo ambulantes para as faculdades. Com ajuda dos nossos pais, da sociedade, dos professores, passamos a nos compreender, conscientemente ou não, como “capital humano”: sujeitos a serem otimizados para melhor performance na economia”. Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Petersen.

Caminhos que também levaram jovens adultos do CLT para o PJ e para a plataformização do trabalho, causando sua precarização, principalmente no quesito estabilidade e direitos.



Precarização do trabalho

Bom, não demorou muito para a realidade se impor ao sonho, nos mostrando que não seria tão simples assim.


Ter um diploma não garantiu um emprego — nem do bom, nem do ruim. Muitos, na tentativa de construir um bom currículo e acumular experiências — principalmente em áreas mais criativas ou profissões menos tradicionais — passaram a ver no trabalho voluntário, permutas e “parcerias” uma forma de construir portfólio.


Num contexto de auto exploração, altos níveis de ansiedade e preocupações diante incertezas do futuro, acreditamos que trabalhar muito — independente do salário, direitos ou ambiente — não era só necessário, mas o único caminho para o sucesso.


Acontece que o portfólio crescia, mas a oportunidade de trabalho remunerado nunca chegava. “O Cultivo da esperança — não importa quão pequenas as chances de real sucesso — se tornou uma estratégia de negócios”, explica a autora.


Como alternativa, muitos trabalhavam em empregos que nada tinham a ver com sua formação, apenas para ganhar dinheiro e sobreviver, enquanto o seu trabalho dos sonhos não chegava.


E aí acontece a plataformização do trabalho, em que muitos profissionais, formados e capacitados para a profissão que escolheram, viram como alternativa o trabalho autônomo via plataformas, como os de carro de aplicativo, por exemplo.


A ideia era que fosse temporário, até surgir sua grande oportunidade. Mas em alguns casos ela nunca veio.


Florescendo a atuação freelancer, autônoma ou pejotização do trabalho, que supostamente dão independência e flexibilidade, mas que, na verdade, garantem apenas instabilidade, nenhum direito e insegurança quanto ao futuro.


Dificuldade de descansar

Nessa luta constante em se colocar no mercado, em conquistar uma boa oportunidade e ter finalmente o tão prometido sucesso, veio o esgotamento pelo trabalho.


Somadas a ideia de alta performance, ser multitarefas, feliz, se manter em forma, estar bem com família, amigos e ainda dormir 8 horas por noite. Numa busca constante e incansável por fazer cada vez mais esperando que em algum momento isso trouxesse frutos.


Com as redes sociais, esse cenário só piorou, pois se abriram as portas da comparação. Não apenas fazíamos muito, mas sabíamos o que outros estavam fazendo e precisávamos mostrar estarmos fazendo mais…


Petersen alerta: “Postar nas redes sociais é uma forma de narrativizar nossas próprias vidas: estamos dizendo a nós mesmos como nossas vidas são” — ou como gostaríamos que ela fosse.


A meta é aproveitar toda e qualquer oportunidade para mostrar que estamos prontos para aquela oportunidade tão sonhada — e esperada. E quem começou a utilizar a internet para trabalhar e divulgar seu trabalho, passou a estar sempre online e disponível.


Com isso, rompeu-se os limites de horário e locais de trabalho, agravando-se com os smartphones e aplicativos que nos acompanham 24/7, nos permitindo produzir conteúdo, responder e interagir a qualquer momento.


Nos levando para outro fenômeno: o fim do ócio ou lazer por puro entretenimento. Passamos a buscar um sentido e uma utilidade para toda e qualquer atividade, desde ler um livro, assistir a um filme ou ter um passatempo. Tudo deveria trazer um retorno financeiro ou pelo menos contribuir para desenvolver alguma habilidade útil para o trabalho.


E assim, diminuímos ou eliminamos momentos de lazer e descanso, colocando em cada atividade feita nos horários livres um objetivo monetário ou educacional, priorizando sempre o currículo.


“No fundo, os Millennials sabem que o principal exacerbador do burnout não é o e-mail, o Instagram ou o fluxo infinito de alerta de notícias. É a falha constante com corresponder às expectativas impossíveis que criamos para nós mesmos”. Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Petersen

E os filhos, quando vem?

Não bastasse tudo isso, Millennials, já adultos e na luta por um futuro, enfrentam também uma nova fase social da parentalidade.


Na era da informação, cresceram as informações — cobranças e comparações — sobre a forma certa de criar um filho.


Novamente, redes sociais são o lugar de vigília e comparação — enquanto a preocupação em como criar um filho num contexto econômico difícil e sem segurança financeira só cresce, fazendo com que não ter filhos seja a opção de muitos millennials.


Já aqueles que optaram por ser pais, tiveram em sua maioria apenas um filho, numa tentativa de conseguir dar conta.


Nesse contexto, é impossível não citar questões inerentes à sociedade patriarcal que vivemos, como o machismo e a injusta divisão de tarefas com a casa e com os filhos. Questões que, embora tenham tido evoluções, continuam sendo problemas no cotidiano de muitas famílias, impactando pessoas de todas as idades, mas em especial as mulheres.


“Apesar de as mulheres terem se libertado de muitas formas explícitas de subjugo e sexismo que acompanhavam a vida doméstica, outras formas continuam a acontecer, sublimadas nas ideologias de feminilidade contemporânea atual. Espera-se que as mães de hoje gerenciem e mantenham um emprego de alta pressão, seus filhos, seu relacionamento, seu espaço doméstico e seu corpo”. Não aguento mais não aguentar mais, de Anne Petersen

E aí? Tá tudo perdido, então?

Parece que sim, mas não.


Pensar sobre esse contexto, compreendê-lo e encará-lo como um fenômeno social do nosso tempo e não como resultado de fracassos individuais já é um grande começo, para encontrarmos uma nova forma de nos relacionarmos com o trabalho.


Podemos, dessa forma, quebrar um ciclo, ressignificando como vimos o trabalho, como definimos metas e a expectativa que depositamos na tal realização profissional. E, principalmente, buscar outras fontes de realização pessoal, independente do trabalho.


“Talvez, no meio disso tudo, o desafio seja exercitar atitudes mais generosas consigo mesmo, reconhecendo e celebrando pequenas conquistas. Definindo para si novos balizadores de sucesso, como saber aproveitar o processo, valorizar os aprendizados e encontros do caminho”. Trecho artigo Millennials e a expectativa que não virou realidade | Newsletter Cultivando Equilíbrio.

Uma leitura muito relevante, interessante que nos põe para pensar — e eu torço — para agir. Recomendo!


 

Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Não aguento não aguentar mais, na Amazon.

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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