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Foto do escritorAdriana Ferreira

Crítica Literária: Desafios frente a deficiência física

Atualizado: 22 de dez. de 2023

A partir das obras Lutar, dominar e existir e Transformando revés em êxito, de Enio Faller, que trazem relatos pessoais de aceitação, adaptação e superação.

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Crítica Literária: Desafios frente a deficiência física, a partir das obras Lutar, dominar e existir, de 2016, e Transformando revés em êxito, de 2019, de Enio Faller publicados de forma independente pela Editora Oikos.


Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022, temos 18,6 milhões de pessoas, com 2 anos ou mais, com algum tipo de deficiência no Brasil.


Representando quase 10% da população, um número significativo, pessoas com deficiência não estão completamente incluídas na sociedade. Elas ainda convivem com preconceito, descriminação e precariedade de programas e estruturas que garantam sua inserção e manutenção no mercado de trabalho, condições de estudo, lazer, saúde e segurança.


Um tema que por vezes passa despercebido pela maioria, impacta a vida e existência de milhares de pessoas que acometidas de problemas de saúde veem seu corpo se transformar, impondo um processo de aceitação, adaptação e superação.


Processo narrado de forma honesta e detalhada, por Enio Faller, em seus dois livros: Lutar, dominar e existir, lançado em 2016, relatando a sequência de problemas de saúde que o levaram a amputação de uma das pernas; e Transformando revés em êxito, lançado em 2019, contando seu processo de superação e reinserção à convivência em sociedade, voltando ao mercado de trabalho e atividades sociais.


Ambos os livros, demonstram o quanto o apoio familiar, o acompanhamento psicológico profissional e a disciplina do Enio em todo o processo foram fundamentais para não se deixar abater, nem desistir, diante das diversas dificuldades.


Uma história de luta pela vida, com alguns avanços intercalados com reveses, que poderiam ter outro fim, mas pelo foco e determinação do autor, somados aos bons recursos médicos a que teve acesso, resultaram, como ele diz, em êxito.


Cenário de Amputações no Brasil — via SUS

Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), no Brasil via SUS (Sistema Único de Saúde), foram realizadas 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores (pernas ou pés) de janeiro de 2012 a maio de 2023.


E o número segue crescendo, segundo a SBACV, 2023 irá superar o número de amputações dos membros inferiores realizadas em 2022, sendo o principal motivo o pé diabético, síndrome que acomete pessoas com diabete.


Não saber que tem a doença e/ou não realizar os cuidados necessários para controlá-la, acabam resultando em seu agravamento e levando a consequências como essa. Foi o caso do autor, que descobriu o diabetes tardiamente com outros problemas de saúde resultantes do sedentarismo, sobrepeso, má alimentação, excesso de trabalho e estresse.


“Aos quarenta e dois anos, após exames solicitados pelo médico da família — o que, na verdade, deveria ser rotineiro —, mas como teimoso sempre preferia dizer que não estava à procura de doenças, veio uma notícia terrível: diabetes”. Lutar, dominar e existir.


Reabilitação — física, mental e social

No processo de amputação o paciente passa por diversos exames e tratamentos pré e pós-operatório, sendo este último responsável por sua reabilitação e retorno gradativo às atividades.


É preciso primeiramente manter a saúde em dia, cuidando do corpo e da mente, de forma que estejam aptos a enfrentar todo o processo de adaptação. Cuidar da perna e pé, que darão o sustento e equilíbrio ao corpo, é prioridade.


Segundo Enio relata no livro, essa etapa é bastante desafiadora passando pela reabilitação que prepara para a protetização e depois já com a prótese, inicia-se o processo de adaptação, reaprendendo a andar resgatando sua autonomia.


Trazendo informações detalhadas e embasadas, o autor explica cada etapa do seu tratamento, contribuindo para a compreensão dessa difícil jornada, esclarecendo as razões de ser tão demorada e complexa. Servindo não só de motivação, mas de referência de informações seguras para quem está passando ou passará por amputação.


Nessa jornada, além de todas as dificuldades inerentes ao processo físico, surgem também obstáculos como preconceito, pena e descriminação. Enio destaca o afastamento de pessoas próximas, olhares julgadores e descredibilização da sua capacidade por conta da sua nova condição física.


Contexto que além do impacto na autoestima e motivação, também interferem na limitação de oportunidades para voltar ao mercado de trabalho. Situação que o autor, por ter boa formação escolar, relacionamentos e contar com boa estrutura familiar, médicos particulares e segurança financeira, conseguiu gradativamente driblar.


Mas, para pessoas de classes mais baixas, pouca ou nenhuma escolaridade, a situação é ainda mais grave. Até a reabilitação completa, que pode levar de alguns meses até anos, o profissional fica afastado do convívio social e profissional, sofrendo sérios impactos socioeconômicos.


O SUS oferece gratuitamente todo tratamento de reabilitação e protetização, contudo, esse processo, que é lento, torna o paciente completamente dependente de familiares ou programas de políticas sociais, impactando negativamente a renda familiar.


Como consequência, além dos desafios próprios da recuperação e reabilitação, essas pessoas ainda enfrentam o estresse e preocupação referentes à sobrevivência e manutenção de necessidades básicas. Sem falar, que nem todos possuem acesso ou esclarecimento necessário para manter o mesmo nível de cuidado do corpo, com a saúde mental.


Fator fundamental para desenvolver a resiliência, manter a esperança e motivação durante a difícil jornada de recuperação e se fortalecer perante tantos desafios. E é justamente nesse ponto que Enio mais desenvolve seus relatos: a importância da disciplina e dedicação ao tratamento, com foco na melhora da saúde e conquistas futuras — tanto da autonomia do próprio corpo, quanto da profissional e financeira.


Ter objetivos e metas, visualizando o futuro após a recuperação também ajudam a manter a motivação, uma vez que sabendo onde se quer chegar, as dificuldades cotidianas se tornam obstáculos possíveis de serem superados.


O apoio da família, amigos e rede de apoio também são fundamentais. Sabendo não estar sozinho, tendo com quem contar e por quem lutar, há mais razões para lutar, do que para desistir.


Inclusão Social

Segundo o dicionário do desenvolvimento: “A inclusão social é o processo para melhorar as condições de participação na sociedade das pessoas mais vulneráveis — com base na idade, sexo, deficiência, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra — através da ampliação de oportunidades, do acesso a recursos, da voz e do respeito pelos direitos”.


Tais ações são — e devem — ser promovidas essencialmente por meio de leis e políticas públicas, afinal trata-se de um direito de todo cidadão. Contudo, por precariedades e/ou insuficiência da cobertura dessas ações, surgem iniciativas privadas e voluntárias, como ONGS, também contribuindo para a inclusão social.


Entretanto, para pessoas com deficiência ainda se veem muito marginalizadas, com poucas oportunidades de manter um convívio social ativo, podendo estudar, trabalhar e se relacionar com independência e segurança. Nesse sentido, o escritor Enio Faller, que tem vivido essa realidade, trabalha na sua terceira obra, cuja temática será a inclusão.


Novamente a partir da sua vivência pessoal, ele trará informações embasadas e relevantes para esclarecer o tema, principalmente para pessoas que vivem a mesma situação e precisam saber dos seus direitos.


Uma história de superação

Quando o autor decidiu escrever sobre sua jornada, num primeiro momento, buscava forças para enfrentar e superar as dificuldades. Depois, compreendeu que sua experiência poderia ser exemplo e inspiração para outras pessoas que passaram ou estão passando por situações de saúde igualmente desafiadoras.


Ao mostrar como conseguiu sobreviver a tantos problemas e reconstruir seu modo de vida, Enio, quer mostrar que outras pessoas também conseguem. Sempre destacando a relevância de se informar e estar preparado — física e mentalmente — para encarar os desafios.

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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