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Foto do escritorAdriana Ferreira

Dados do Livro: Perfil Leitor Visitante Bienal SP, em 2022 e Perfil Leitor Brasileiro, em 2019

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Analisamos duas relevantes pesquisas sobre o comportamento do leitor brasileiro, para refletir sobre o perfil e hábitos desse público.

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Confira a análise das as pesquisas Retratos da Leitura em Eventos Literários de 2022 - Bienal de SP e Retratos da Leitura no Brasil 2019 na série Dados do Livro. ​​


Introdução

Há pouco mais de dois meses, entre 2 e 10 de julho, aconteceu a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Um dos principais eventos literários do país, voltou ao presencial, reunindo centenas de pessoas em torno do livro, com 182 expositores, cerca de 500 selos editoriais e 660 mil visitantes recebidos nos pavilhões da Expo Center Norte.


Durante o evento, a pedido do Instituto Pró Livro – IPL e Itaú Cultural, o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria aplicou um questionário para conhecer o perfil e os hábitos dos leitores que frequentam eventos literários. Utilizando a técnica quantitativa, a pesquisa entrevistou 1000 visitantes com 10 anos ou mais que não eram estudantes em excursões escolares.


Analisando os resultados ficamos diante de duas informações-chave: a primeira, o desenho do perfil de quem frequenta eventos literários; e, a segunda, um comparativo com o perfil do leitor brasileiro, mapeado na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2019.


 

Perfil público Bienal de SP

e um esboço do perfil dos frequentadores de eventos literários


\\ quem é

Como já era de se esperar, o público da Bienal do Livro de SP é de leitores: 98% dos entrevistados afirmaram ter lido pelo menos um livro nos últimos 3 meses (conceito que define o leitor pela pesquisa nacional Retratos da Leitura no Brasil).

Dentre esse público leitor, 66% são mulheres, 38% possui ensino médio e 59% ensino superior, 36% está na faixa etária entre 18 a 24 anos, 61% se declararam como brancos e 18% pertencem à classe A e 58% à classe B. Ou seja, o grupo leitor que frequentou a Bienal é claramente pertencente à parte mais privilegiada da nossa sociedade. Em resumo, jovens brancos de classe média/alta com acesso à educação.


Olhando para a pesquisa nacional Retratos da Leitura no Brasil de 2019, o público leitor se assemelha ao da Bienal em suas principais características: são pessoas mais escolarizadas, com mais renda e oriundas de ambientes familiares que estimulam a leitura, seja pelo exemplo ou presenteando com livros.


\\ frequência e gosto pela leitura

Quanto ao gosto pela leitura, 79% dos entrevistados na Bienal afirmam gostar muito de ler. Mulheres (85%), de 25 a 29 anos (83%), com ensino superior (82%), classe A (81%) formam a maior parcela desse público.

De forma geral, esse grupo leu em média 7 livros nos últimos 3 meses, sendo que 76% informou ter lido livros de literatura.


Outro dado que reforça as informações encontradas na pesquisa de âmbito nacional, em que quanto maior a renda, maior a quantidade de livros lidos. Da mesma forma, o público feminino compôs em maior número o grupo de leitores no país, representadas em 54%.


\\ acesso ao Livro

A maioria dos entrevistados, 73%, comprou os livros que leu, 9% ganhou de presente e 8% emprestado de parentes/amigos.


Demonstrando que, em sua maioria, o grupo possui poder aquisitivo para adquirir livros com frequência e volume, o que permite deduzir serem proprietários de pequenas bibliotecas pessoais.

Os dados que vem na sequência mostram que o grupo também convive em um ambiente favorável à leitura, uma vez que é presenteado com livros ou pegou emprestado de amigos/familiares, revelando o incentivo à leitura vindo de pessoas próximas.


Igualmente ao que foi retratado na pesquisa nacional, em que a maioria dos leitores afirmou comprar seus livros ou ganhá-los de presente. O diferencial fica para o grupo que, na pesquisa nacional, alegou ler livros disponíveis em bibliotecas, dando um peso maior para o ambiente escolar e incentivo público em manter e estimular o uso desses ambientes.



\\ frequenta eventos literários para…

A maioria dos visitantes (72%) afirmou ir a eventos literários, como a Bienal, para comprar livros com preços especiais e 39% para aproveitar os lançamentos de livros. Seguido de 26% que disseram ter ido pela oportunidade de contato com escritores e 21% para estimular o hábito da leitura nas crianças.


Uma parcela de 18% dos entrevistados afirmou ter visitado outros eventos literários, um número um pouco maior dos 14% que em 2019, na pesquisa nacional, afirmaram frequentar eventos do gênero. Ficando o destaque para a grande maioria, mais de 80%, que nas duas pesquisas afirmaram não frequentar esse tipo de evento.


\\ motivação para a leitura

Como motivadores para terem lido livros nos últimos três meses foram citados amigos (85%), filmes de adaptações literárias (78%), professores e escolas (62%).

Porém, o dado que mais tem circulado sobre essa pesquisa foi sobre a relevância de influenciadores digitais no hábito de leitura e escolhas de livros, do público que foi a Bienal.


A informação de que 52% dos entrevistados citou influenciadores digitais como uma das motivações para seu interesse em leitura de livros chamou a atenção, uma vez que na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2019 os influenciadores digitais não haviam sido citados como motivadores para o interesse dos leitores em leitura de livros.


Ainda na pesquisa da Bienal, 28% disse que sua última leitura foi indicada por influenciadores digitais, seguido de algum amigo com 20%. Dado que também se contrapõe ao apresentado na Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2019, onde apenas 2% dos leitores disse considerar a indicação de livros feita por influenciadores.


Esses números revelam uma mudança no impacto de influenciadores digitais no consumo e leitura de livros pelo público leitor. Sendo a pandemia e o advento de novas plataformas como o TikTok os prováveis estimulantes desse processo.


Visto que 87% dos entrevistados na Bienal informaram ter lido mais durante o isolamento por conta da pandemia, 60% afirmaram ter aumentado seu interesse por livros nesse período e 63% diz ter se interessado por novos títulos.


Como benefícios, 79% concordam que ler melhorou a qualidade de vida durante o distanciamento social, para 66% a leitura ajudou a reduzir o estresse e a ansiedade e para 55% ler diminuiu a sensação de solidão ou tristeza.


Quanto ao TikTok, desde 2020 vimos a consolidação de uma comunidade de leitores dentro da rede social. Que com alto poder de influência, criação de threads e hypes que colocaram livros e autores em destaque, muitas vezes os levando para a lista de mais vendidos.


Em entrevista dada para o portal Gente (IG) Vitor Tavares (CBL) afirma que esse movimento intitulado BookTok tem propagado muito conteúdo literário e despertado muito interesse do público por autores nacionais e internacionais, os quais puderam ser encontrados presencialmente na Bienal.


Outro aspecto que faz parte do fenômeno: influenciadores presentes no TikTok e outras plataformas de mídias sociais também trabalham no convite e incentivo do seu público para a visitação de eventos literários como a Bienal. Aproveitando o momento para promover os conhecidos encontrinhos entre seguidores e produtores de conteúdo, o que leva mais público para o evento, fortalece a comunidade e contribui para o mercado editorial que também investe em parcerias com os influenciadores.


Ponto de atenção aqui seria para o fato de que estamos falando de um público que já é leitor e que encontra nessas comunidades digitais o incentivo para manter e aprofundar seu hábito de leitura. Entretanto, como já citado aqui no texto, "Por que falar de livros na internet?", esses movimentos pouco ou nada contribuem para a formação de novos leitores. Permanecendo com a escola e professores a responsabilidade de abrir a porta de entrada no universo da leitura e do livro, principalmente para crianças e jovens em maior vulnerabilidade.


O que consequentemente põe luz a necessidade de bibliotecas atualizadas e interessantes, professores e profissionais qualificados para fazerem a mediação de leitura e introduzirem os alunos no universo literário. Fatos que nos fazem questionar o quanto os incentivos financeiros feitos pelo governo de SP, com a distribuição de vouchers, contribuíram para o despertar para a leitura de crianças e jovens que passaram pelo evento?


\\ incentivo a leitura

Recordemos, portanto, que como forma de incentivar a leitura e o aquecimento do mercado livreiro, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo levou 25.500 estudantes da rede pública à Bienal, com um cartão com R$ 60 reais, para ser usado na compra de livros durante o evento. Também foram beneficiados, com um voucher no mesmo valor, 66.498 educadores em atividade na rede, como professores, coordenadores pedagógicos, diretores e supervisores.


Além disso, foi disponibilizado o transporte dos alunos através de 580 ônibus, com um veículo para cada escola de Ensino Fundamental, Ensino Médio e educação de jovens e adultos. E cada escola pode levar um grupo de 40 alunos ao evento.


Já para o público em geral, foi oferecido um cashback de 30% do valor do ingresso para aqueles que compram o bilhete de forma antecipada pelo aplicativo ou site do evento.


Sobre essas ações, Vitor Tavares (CBL) comentou em entrevista a Veja que “Nunca houve um apoio com esse volume por parte da prefeitura antes. Com esse dinheiro é possível comprar dois ou três livros interessantes”, diz ele. “É importante dizer que esse valor será reembolsado pela CBL depois. O expositor não vai perder nada.”


O efeito nas vendas de livro foi evidente e bastante necessário, mas se olharmos com mais atenção para esses jovens leitores que tiveram a oportunidade de ir e comprar livros na Bienal, podemos afirmar que todos eles têm escola e bibliotecas de qualidade, capazes de manter o interesse pela leitura? Será que seus ambientes familiares também são favoráveis para a manutenção desse hábito?


Não descarto a necessidade e importância das ações realizadas pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, entretanto fica a reflexão sobre como o desenvolvimento do hábito de ler e principalmente as condições para a sustentação desse hábito, dependem muito de um contexto favorável e não só de atos isolados.


Quem é o leitor brasileiro, então?


Se por um lado comemoramos que haja um grupo de leitores formado pela metade da população brasileira, por outro, sentimos pelo perfil que caracteriza a maioria desse público: brancos, escolarizados e com boas condições financeiras.


Fato que infelizmente não surpreende, mas que entristece. Tornando ainda e cada vez mais necessário o investimento em políticas públicas de incentivo à leitura, que facilitem o acesso ao livro com a garantia de bons livros em bibliotecas públicas e escolares, que formem e atualizem profissionais da educação para a mediação literária.


Quando a desigualdade é tamanha, são imprescindíveis medidas reparatórias que visem diminuir a distância entre indicadores tão fundamentais em qualquer sociedade, como é o de leitores e não leitores.


E você o que pensa sobre esse assunto? Deixa aqui nos comentários e vamos conversar!


Você pode ter acesso as pesquisas sobre eventos literários: aqui; e, a pesquisa sobre visitantes da Bienal de SP: aqui.


 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado dessa leitura.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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