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Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: A Coragem de não agradar, de Ichiro Kishimi e Fumitake Koga

Atualizado: 5 de jan.

Através de um longo diálogo, entre o filósofo Ichiro Kishimi e Fumitake Koga, a obra apresenta as ideias da psicologia do desenvolvimento individual de Alfred Adler.

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Confira a resenha do livro A coragem de não agradar, de Ichiro Kishimi e Fumitake Koga, com tradução de Ivo Korytowski e publicado em 2018 pela editora Sextante.


Descobrir como enfrentar as dificuldades da vida, diminuindo os problemas e as preocupações para ser realmente feliz, pode ser o sonho de muita gente.


Em tempos de redes sociais, a grama do vizinho não parece mais verde, de fato ela o é. Graças aos filtros e programas de edições, ninguém mais tem problemas, imperfeições ou grama feia. Até mesmo a hora do sofrimento e do choro, é capturado do melhor ângulo, com a melhor luz.


Nesse contexto digital, não pensar sobre o olhar e julgamento do outro, é quase impossível. Entretanto, a obra A Coragem de não agradar, propõe justamente isso: um processo de autoaceitação e despreocupação com o olhar alheio. Para assim encontrar o caminho da verdadeira felicidade.


“Não se trata de como o mundo é, mas de como você é”

Como qualquer texto filosófico, o livro causa reflexões muito pertinentes. E propõe um caminho de reavaliação dos nossos valores, nos mostrando novos pontos de vista para questões comuns e subvertendo a ordem daquilo que julgamos ser o único caminho possível.


Pessoais reais, que viraram personagens

Quando Ichiro Kishimi, filósofo japonês, descobriu a psicologia do desenvolvimento individual, criada por Alfred Adler, ficou intrigado. A promessa de que a vida era fácil, que todos poderiam ser felizes lhe fez querer investigar como isso era possível. Pesquisador da filosofia de Platão, Kishimi, percebeu na proposta de Adler muitas semelhanças entre as duas teorias.


Nessa obra, ele apresenta a sua interpretação das ideias de Alfred Adler, relacionando com os princípios da filosofia grega. No formato de um grande diálogo entre ele Fumitake Koga — coautor da obra, que no livro torna-se um personagem — um jovem interessado em refutar as ideias de um filósofo que “ensinava que o mundo era simples e a felicidade estava ao alcance de todos”.


Conceitos difíceis de engolir

Criada por Alfred Adler, na linha da psicanálise, a psicologia do desenvolvimento individual faz afirmações que causam desconforto naqueles com consciência da desigualdade social que vivemos. A crença de que só precisamos acreditar e fazer a nossa parte para que tudo dê certo, só serve para alimentar a falácia da meritocracia.


Portanto, é importante destacar que as ideias do livro não são nem de longe uma proposta geral sobre conduta humana para a busca da felicidade. Existem muitos outros aspectos essenciais que um indivíduo precisa ter primeiro, para então conseguir colocar em prática esses ideais. Como, por exemplo, casa, comida, saúde e segurança, etc.


Da mesma forma, Adler desafia ao incluir em sua teoria a negação dos traumas, o impacto do passado em nosso presente, sua explicação para complexo de inferioridade, entre outros. Alegando que somos os únicos responsáveis pela forma como nos sentimos, agimos e formamos o que ele chama de estilo de vida.


Mas, superando essas questões político-sociais extremamente importantes, tomei distanciamento, ignorei o desconforto em alguns trechos e segui a leitura para tentar entender a ideia geral dessa proposta. E sim, o diálogo entre o filósofo e o jovem é bastante interessante.



“Isto fica feliz em ser útil”

Como eixo central do texto temos a ideia de autoaceitação. Aceitando quem somos, com nossas qualidades e defeitos, como uma pessoa normal, podemos nos libertar da necessidade de busca pela aprovação dos outros.


Para viver bem em sociedade, bastaria, segundo o autor, fazer o melhor possível, com os recursos que temos — algo como, focar em “fazer a nossa parte”. E substituir a busca por aprovação, pela ideia de que somos parte de uma comunidade e podemos agir em benefício dela.


“O importante não é aquilo com que nascemos, mas o uso que fazemos desse equipamento”.

Como as pessoas à nossa volta irão nos ver, se reconhecerão nossos esforços, se teremos algum benefício a partir desse comportamento, não importa. O ponto é a intenção individual em contribuir, pois, segundo Adler, somente a satisfação em ser útil e contribuir com algo maior, nos trará o verdadeiro sentimento de felicidade.


E é daí que vem a fonte da coragem para sustentar tal comportamento: sentir que temos valor para aqueles à nossa volta. Seja através de nossas ações ou de nossa existência. Mas, somente através da certeza de que fazemos a diferença, podemos nos libertar da busca constante por aprovação.


“Em outras palavras, a pessoa obcecada pelo desejo de reconhecimento ainda não possui a sensação de comunidade. Também não conseguiu se envolver na autoaceitação, não tem confiança nos outros nem alcançou a sensação de que está dando a sua contribuição”.

A coragem de ser normal

Abandonar a busca por aprovação e ter a coragem de agir como verdadeiramente se quer, independentemente da opinião dos outros, pode parecer egoísta ou arrogante. Mas aí entra a ideia de “separação de tarefas” nas relações interpessoais, onde cada um pode agir somente até certo ponto.


“Você não se prepara para ser arrogante, nem se torna arrogante. Apenas separa tarefas. Pode haver uma pessoa que não simpatize com você, mas isso não é tarefa sua”.

Não se trata de desvalorizar a opinião dos outros. Mas de se libertar pela busca de aprovação, o que nos faz agir na intenção de atender as expectativas dos outros. Para agir apenas a partir dos nossos desejos e valores.


“Exercer a liberdade tem um preço, e o preço da liberdade nos relacionamentos interpessoais é desagradar algumas pessoas”.

E voltando ao nosso contexto digital, onde todos querem likes, seguidores e fãs, o foco é mostrar uma vida interessante e feliz. Ser especial, diferente, se destacar entre a multidão, faz parte do objetivo. Entretanto, o autor propõe que a grande conquista é ter coragem para ser normal.


Afinal, ser normal não é ser incapaz ou irrelevante, é apenas normal. É cessar a busca por ser especialmente bom, diferenciado, o que sempre envolverá a validação dos outros.


“Porque é preciso ser especial? Provavelmente porque a pessoa não consegue aceitar o seu eu normal. E é por isso que, quando fica impossível ser especialmente bom, o indivíduo dá um salto enorme e se torna especialmente mau”.

Sem dúvidas um livro bastante interessante, de interpretação complexa, não por dificuldades da escrita, mas pela ambiguidade dos conceitos apresentados.


Também faz provocações filosóficas ricas e pertinentes, principalmente no contexto de vivência digital que nos encontramos. Recomendo a leitura e que você se deixe provocar por novas ideias.


Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: A coragem de não agradar, na Amazon.

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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