Relato pessoal sobre uma nova relação com o consumo de livros.

Série de Conteúdo: Adorado Objeto Livro - Você sabe quantos livros não lidos tem na estante?
Há alguns anos que cultivo o hábito de ler e dentro das minhas possibilidades venho também adquirindo livros e formando minha pequena-grande biblioteca.
O alto volume e frequência de lançamentos de livros e os mais diversos influenciadores e personalidades que falam de livros na internet fazem com que a lista de livros para ler (e comprar) só aumente.
Com isso, é comum alimentar uma sensação de que nunca estamos lendo o suficiente, sempre falta tempo e temos a certeza de estar deixando de ler algo muito bom. Seria o já conhecido FOMO, em inglês “fear of missing out”, que podemos traduzir para “medo de ficar de fora”. Pois é.
Fato é que como uma forma de não perder aquele livro incrível que todo mundo está lendo e indicando, compramos e o guardamos na estante. Como uma garantia de que assim ele será lido e estamos de alguma forma inseridos no grupo (mesmo sem ter lido).
Porém, a verdade é que muitas vezes esse livro incrível que "não podemos deixar de ler" é comprado e fica parado na estante por meses, quando não anos (!). Com altas chances de quando finalmente pararmos para lê-lo, ele já não nos interesse mais.
Quem já passou por isso, levanta a mão! (pra quem não está me vendo, estou agora com as duas mãos pro alto)
Pois bem, nos últimos anos, ao comprar mais livros do que tinha capacidade de ler, só via a pilha de livros não lidos aumentar. Com isso, mais ansiedade e culpa: por que não estou lendo o quanto deveria? Queria tanto comprar esse livro novo, mas já tem tantos outros parados… E por aí vai.
Até que esse ano, resolvi encarar isso de uma forma mais racional e menos emocional. Entender isso acho que é o principal ponto para uma iniciar (ou pelo menos tentar) uma mudança como essa. Quem compra livros é porque ama ler, ama livros e quer tê-los em casa, a ponto de prioriza-los no orçamento (porque infelizmente livros não são baratos mesmo).
Ou seja, são compras extremamente emocionais e por serem vistas (e acredito que sejam mesmo) como investimento em cultura, educação e desenvolvimento, é como se tais gastos desenfreados fossem justificáveis. Mas, a verdade é que não são. Não faz sentido nenhum comprar hoje um livro que vou ler daqui a 3 anos.
Por isso, como forma de parar de acumular livros não lidos e mudar minha relação com esse tipo de consumo, decidi, como diz minha afilhada diz, "fazer um combinado" comigo mesma, de: só comprar livros que vou ler imediatamente. Se estou querendo um livro, que sei que é muito bom, mas não a ponto de passá-lo na frente dos outros, não compro.
Difícil? Muito! Mas, fez com que eu lesse uns 60% dos livros que estavam parados na estante. E melhor: cheguei em dezembro de 2022 com todos os meus livros comprados em 2022 já lidos! Sim, isso é pra mim uma das "pequenas alegrias da vida adulta".
E sim, ainda tem livros antigos encalhados na minha estante e eles serão metas para 2023: ou vou ler, ou vou doar.
Há também livros novos sem ler na estante, são poucas edições que ganhei de presente. Nesse caso, tenho deixado esses livros em separado e procuro encaixá-los o mais breve possível nas leituras do mês para que não virem encalhados.
Contar aqui o porquê e como consegui fazer isso tem a intenção de inspirar uma reflexão sobre uma relação mais saudável com o consumo e minimizar ansiedade e cobranças com uma pilha de livros não lidos.
Afinal, já tem muita coisa rolando pra nos gerar esse tipo de sentimento. O momento de leitura deve ser algo leve e prazeroso e não mais uma cobrança.
Bom, o primeiro passo como já disse, foi conseguir pensar nesse assunto de forma mais racional e menos emocional. Penso que consegui isso no momento em que realmente me senti incomodada de ver tanto livro bom empoeirado na estante. Cada um vai saber onde o desconforto bate, então a dica é: avalie como você se sente com esse bando de livro não lido parado aí.
Depois, foi reconhecer que eu jamais ia conseguir não comprar livros. Regras do tipo: só vou comprar quando ler tudo que tenho em casa é tão maluca que eu nem sequer cogitei. Eu sabia que ia comprar e acho que isso foi fundamental pra dar certo o "meu combinado".
Assim como na alimentação em que toda restrição leva a compulsão, acredito que aconteceria o mesmo no caso do consumo de livros. Eu ficaria meses sem comprar até o dia que compraria tudo em um único dia.
Por isso, o fundamental foi criar um critério de prioridade de leitura, baseado no meu momento pessoal e profissional. Portanto: o que eu queria ler agora eu comprava, o que eu sabia que não iria ler no momento eu deixava na lista pra comprar depois.
Note: eu não decidi não comprar, ou não ter aquele livro nunca mais, eu só decidi comprar depois quando eu pudesse mesmo lê-lo. Foi esse "Na volta a gente compra" adaptado que eu venho me dizendo há meses e que me fez em um ano não comprar nenhum livro pra deixar parado.
E se por acaso trata-se de um livro que você não pode deixar de ler de jeito nenhum, então compre e leia. Do contrário, não faz sentido um livro ser tão importante para ser comprado imediatamente, mas depois da compra ele ficar abandonado na estante.
Esse processo inclusive abre portas para se refletir sobre temas mais profundos, como consumismo, questões de ansiedade ou emocionais que podem estar sendo encobertas por essa urgência do ter, do comprar, do exibir na estante, do não ficar de fora.
Continuar comprando livros (mesmo que em menor quantidade) ajuda muito nesse processo, pois continuei lendo novidades e não tive "crise de abstinência" por ficar meses sem comprar livros. Ao mesmo tempo que foi ficando cada vez mais fácil sair de uma livraria ou feira do livro sem comprar absolutamente nada.
Outro aspecto bacana foi mesclar nas leituras do mês os livros novos (novidades) com livros encalhados na estante (logo, obras relativamente antigas). Essa experiência foi bem interessante para avaliar gostos e interesses.
Vários livros encalhados que foram lidos eu amei e não me arrependi de tê-los trazido pra casa. Outros eu sei que nunca mais vou ler. E alguns, eu nem li e já coloquei pra doação, porque eles simplesmente não me interessavam mais.
Fato que comprova como meu gosto mudou, ou que comprei no impulso sem avaliar bem se aquele livro era pra mim… Questões que reforçam positivamente minha decisão de só comprar livros que eu realmente vou ler no momento.
Compartilho minha experiência e como isso me deixou feliz e mais leve, como uma inspiração para quem estiver vivendo um momento parecido.
Agora me conta: e por aí, como anda sua relação com o consumo de livros?

Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a continuar lendo a série.
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Nos vemos no próximo texto 🥰
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