Uma história forte, sensível e comovente sobre perder-se de si.
Confira a resenha do livro Para sempre Alice, de Lisa Genova, traduzido por Vera Ribeiro e publicado pela HarperCollins em 2015.
Já pensou em como seria perder todas as suas memórias?
Esquecer tudo que aprendeu, estudou, leu e viu?
Não reconhecer as pessoas mais próximas de você, como seu marido ou esposa e seus filhos?
Tudo devagar até o momento em que você já não sabe mais quem é, esqueceu seu nome, sua profissão, onde mora. Perdendo, por fim, total controle da sua vida.
É duro imaginar uma situação assim, principalmente quando estamos bem e com saúde.
Mas, e se?
Diariamente exigimos muito do nosso cérebro, são infinitas tarefas, compromissos, na hora do lazer queremos ler, assistir filmes, séries, acompanhar algum esporte, ler as notícias… Nossa cabeça não para.
A todo momento tem alguma tela — ou alguém — chamando nossa atenção. E entre uma olhada e outra nas redes sociais, vamos vivendo sem nem se quer pensar ser o nosso cérebro o responsável por assimilar e consumir tanta informação. É como respirar, tão natural que nem percebemos.
Mas quando esse órgão começa a falhar é impossível passar despercebido. E foi assim, que Alice, protagonista do livro de Lisa Genova, descobriu sofrer de Alzheimer precoce, perto de completar 50 anos.
Doutora e professora universitária em Harvard, a personagem estudou por mais de 25 anos psicolinguística, construindo uma carreira de sucesso. Mas, de repente, algumas palavras começaram a fugir, ficando difícil completar as frases no meio da aula.
“Enquanto vasculhava os cantos do cérebro em busca da palavra que escapara e de uma explicação racional para ela a haver perdido, seu coração se acelerou e o rosto ficou quente. Era a primeira vez que uma palavra lhe fugia na frente de uma plateia”.
Inicialmente pensou que fosse o cansaço pelo excesso de trabalho. Até que um dia, saiu para correr perto de casa, um trajeto que costumava fazer com frequência e, de repente, esqueceu onde estava e nem imaginava como ou para onde voltar.
Mais uma vez pensou ser culpa do esgotamento. Afinal, ela viajava muito a trabalho, dava aulas, tinha sua pesquisa e orientandos para atender. Sem falar da casa, filhos, marido… Talvez estivesse só precisando de férias.
À medida que os pequenos esquecimentos iam se repetindo, Alice começou a se preocupar, será que era normal? Resolveu fazer uma consulta de rotina e para fins de investigação foi recomendado a consulta com um neurologista. Alguns testes e exames depois, pronto, o diagnóstico estava dado: Alzheimer precoce.
A descoberta da doença acontece bem no começo do livro e a partir daí, acompanhamos a trajetória de Alice sendo dia após dia impactada pela doença. Em uma caminhada lenta e difícil, vemos ela esquecendo tudo aquilo que dominava e como isso impactou sua vida e a de seus familiares.
Primeiro as aulas que não conseguiu mais dar, depois uma rotina familiar toda alterada, pois ela não podia mais ficar sozinha. Seus estudos, pesquisas, livros, de nada mais ela tinha certeza. Foi esquecendo que dia era, nomes, lugares, receitas. Passou a não conseguir executar atividades simples sozinha, precisava de ajuda para se vestir, lembrar de comer e beber água, dormir e acordar.
“Por isso, mesmo quando me sinto completamente normal, sei que não estou. Não acabou, é só um descanso. Não confio em mim mesma”.
Uma história impactante e dura de ler, por imaginarmos tamanho sofrimento de todas essas perdas. Ainda mais para uma mulher tão ativa, inteligente, que produziu tanto conteúdo científico, pesquisas, dava palestras e lecionava e de repente, todo esse conhecimento acumulado se esvai, sem que ninguém possa fazer algo.
Sem cura para o Alzheimer, remédios apenas minimizam os sintomas e é necessário que a família busque estratégias para manter a segurança e alguma autonomia para a protagonista. Forte e muito consciente de sua nova condição, Alice se fortalece perante seu diagnóstico.
Ela busca recursos para manter sua autonomia e memória pelo máximo de tempo possível, estuda sobre a doença, cria um grupo de apoio, usa sua criatividade para encontrar formas de se lembrar de coisas importantes. É lindo ver sua garra em aceitar sua nova condição e viver o melhor possível aquele cenário, que ela sabe não tem como acabar bem.
“Mas não sou aquilo que digo ou faço, ou aquilo de que me lembro. Fundamentalmente, sou mais do que isso. Sou esposa, mãe e amiga, e logo serei avó. Ainda sinto, compreendo e sou digna de amor e da alegria dessas relações”.
Fica evidente o quanto o apoio da família também é fundamental, com o amor e a união de todos fazendo a diferença. Mas, em um processo muito honesto, sem romantizações, vemos seus filhos e marido apavorados, sofrendo com a situação, muitas vezes perdidos e com as relações entre si fragilizadas. Tiveram que evoluir da fase de negação, medo e dor para priorizar Alice, seu bem-estar e segurança.
Uma história marcante, com ensinamentos imensuráveis como valorizar os pequenos momentos, valorizar quem somos, nossa autonomia, nossa saúde. Lembrar que para além de aparência e posição, o que nos mantém fortes e firmes é quem somos em nosso interior e aqueles que estão à nossa volta. Recomendo demais a leitura!
“Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente”.
Sobre a autora
Lisa Genova é uma neurocientista e escritora, norte-americana. Formada em biopsicologia com doutorado em Neurociência por Harvard, escreve suas ficções inspiradas na neurociência e nas relações humanas.
Ela publicou o livro "Still Alice", em 2007, de forma independente. Na sequência teve os direitos comprados por uma editora que fez uma nova publicação da obra em 2009. O livro se tornou um best seller, assim como aconteceria com suas outras obras. Foi adaptado para o teatro em 2013 e para o cinema em 2015. Até o momento a escritora possui seis livros publicados, apenas um de não ficção.
A escritora também realizou duas palestras para o TED: a primeira foi "What you can do to prevent Alzheimer's" de 2017. E a mais recente: "How your memory works and why forgetting is totally OK" de 2021.
Sobre a adaptação para o cinema
Adaptado para o cinema em 2014, com estreia no Brasil em 2015, o filme é bastante fiel ao livro e a atriz, Julianne Moore, que interpretou Alice, foi incrível.
Com uma interpretação impecável, ela conseguiu demonstrar como a doença avança aos poucos, transmitindo todo medo, angústia, sofrimento e aprendizados que esse processo pode trazer. Sua atuação lhe rendeu um Oscar de Melhor Atriz, aqui seu discurso ao receber o prêmio.
Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Para sempre Alice, na Amazon.
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.
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Nos vemos no próximo texto 🥰
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