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Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do Livro: A Cachorra, de Pilar Quintana

Atualizado: 21 de dez. de 2023

A condição da mulher em sociedade, retratada a partir da relação das protagonistas: uma mulher e uma cachorra.

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Confira a resenha do Livro A Cachorra, de Pilar Quintana, com tradução de Livia Deorsola, lançado em 2017 e publicado no Brasil pela editora Intrínseca em 2020.


O comparativo do comportamento de dois seres femininos: uma mulher condicionada ao código de conduta social e uma cachorra, animal livre que vive seguindo seu instinto. Numa relação como a de mãe e filha, de dona e pet ou mulher e cachorra. As dimensões são muitas e todas complexas para compreender.


Damaris, teve uma infância difícil, muito pobre, perdeu a mãe cedo, foi criada pelos tios. Ainda criança perde um amigo em uma tragédia, pela qual se sentirá culpada por toda a vida.


Quando adulta, encontra o amor e decide casar-se. A relação vai bem, numa vida humilde, de muito trabalho e luta.

O quanto as expectativas alheias podem modificar nossa vida?

Não demora muito para começarem as cobranças, mascaradas de perguntas inocentes: e os filhos? Esse era o caminho natural: casar e ter filhos. E todos, família, amigos, vizinhança, todos aguardavam os deles.

Passou-se um ano, dois e nada. Estranharam… As perguntas insistentes, que exigiam sempre uma explicação, foram deixando o casal frustrado, irritado e desconfortável.

Procuram a ajuda que era possível no meio em que viviam: chás, banhos de ervas, curandeiros, simpatias… tudo que prometia fazê-los engravidar. Mas, nada resolveu. Esse processo, longo e doloroso, gerou pressão e foi criando espaços vazios que distanciaram o casal. Mágoas, alfinetadas, ofensas, falta de paciência, logo desrespeito.

Com os anos, desistem da ideia de filhos e também do casamento. Apenas convivem, cada um em seu quarto, com a sua solidão.

Até que Damaris resolve adotar uma cachorra, que perdeu a mãe logo cedo — como ela. Por instinto, deposita no animal toda sua ternura, amor e dedicação, inconscientemente a cadela era a filha que ela não teve.

O animal, jovem e indefeso, aceita tudo de bom grado e como uma sombra, segue Damaris em todo local. Mas, quando cresce, descobre as ruas, os outros animais e passa a fugir. Um comportamento até comum para uma cachorra, mas que Damaris vê como uma ofensa, uma desfeita.

O quanto uma decepção nos transforma?

De filha a cachorra vira inimiga e a história toma outro rumo. Numa disputa de poder, vingança e violência.

Nos pondo a refletir sobre o quanto é saudável se dedicar em uma relação? Certamente não há uma única resposta certa para essa questão. Contudo, é certo que quando amamos, cuidamos, nos doamos, expectativas são criadas. Inclusive na maternidade.

Não se trata de cobrar retorno, mas de entender que naturalmente deve haver, em uma relação saudável, alguma reciprocidade. Damaris, queria amor, atenção, companhia. Desejava se orgulhar da sua filha, mimá-la, alimentá-la, acarinhá-la, banhá-la e exibi-la por aí.

Mas, e a cachorra, o que queria? Como um animal que é, devia agir por instinto, focando em atender suas necessidades do momento. Se está com medo, frio ou fome, procura quem a proteja, ofereça abrigo e a alimente. Quando está bem e quer sair, livre, sem hora para voltar ou dar satisfações, também o faz.

Essa dinâmica, fundada em outras bases com expectativas distintas, colocou Damaris diante de emoções desconhecidas. Tanto amor por alguém que não podia afetar. Um ser livre, sem compromisso com ela ou seus sentimentos. Um animal, por assim dizer, que mesmo quando domesticado, carrega em si sua origem selvagem.

A relação com a cachorra, despertou o animal dentro de Damaris, expondo suas sombras e os sentimentos mais difíceis de assumir: a raiva, a inveja, o desejo de vingança. A obrigou a olhar para si, reconhecer também seus erros, suas dúvidas, suas necessidades. Num processo em que se aceitar a faria também, se libertar.

Para ter suas necessidades atendidas, perdeu sua racionalidade e deixou agir seu instinto. As consequências, ela poderia lidar depois. Ou quem sabe, como sua cachorra lhe ensinou, ela poderia fugir.


Complexidade humana e o amor incondicional

Pilar Quintana é colombiana de origem humilde, que ascendeu como escritora. Nessa obra, que foi escrita no celular enquanto amamentava seu primeiro filho, a autora mergulha na complexidade humana. Apresentando não só as dificuldades da maternidade, mas também questionando o amor puro e incondicional esperado das mães.


Ao colocar no lugar de uma filha, uma cachorra — que por ser fêmea foi a última a ser adotada — com comportamentos de desfeitas, ingratidão e desrespeito, nos coloca a repensar papéis e fundamentos da relação de mãe e filhos. Afinal, a cachorra é livre e não sofrerá julgamentos porque é cachorra?

Uma filha, humana, agindo como a cachorra, seria vista como? E se, no lugar dessa mãe, tivéssemos outra cachorra? Na própria história experimentamos essa relação quando a cachorra Chirlei tem filhotes: ela não quer amamentá-los, chega a devorar um deles e os abandona com rapidez e facilidade.

Jogando na nossa cara uma maternidade completamente fora do que entendemos normal e aceitável. Quintana nos leva para o extremo para não deixar dúvidas de que não existe só um jeito de maternar.

E nesse jogo entre comportamento humano e animal, sob o recorte do feminino, não nos traz respostas nem acalento. Todos os caminhos são possíveis e todas as saídas ficam entreabertas.

De uma maneira meio selvagem, sem regras ou obrigações, suas personagens tem o final que conseguem ter, sem muitas explicações.

Resenha do Livro: A Cachorra, de Pilar Quintana

 

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Conheça também Os Abismos, sua última publicação que trata sobre a solidão feminina, observada por uma criança.

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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