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Foto do escritorAdriana Ferreira

Dados do Livro: Um breve panorama sobre o acesso ao livro infantil e juvenil no Brasil

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Análise do cenário de acesso ao livro pago, através do mercado e ao livro gratuito, por bibliotecas públicas e escolares.

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Confira aqui um breve panorama sobre as formas de acesso ao livro infantil e juvenil no Brasil.


Apesar da máxima de que o Brasil não é um país de leitores, vimos esse ano o mercado editorial fechar o primeiro semestre de 2022 o crescimento de 3,03%, em comparação ao mesmo período do ano anterior.


O Resultado do 6º Painel do Varejo de Livros no Brasil, divulgado pela SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e a Nielsen Bookscan, também apontou um crescimento no preço médio de capa: de R$ 40,11 para R$ 42,03 (+4,78%). Dados importantes para a sobrevivência do mercado editorial, mas preocupantes para o público leitor de menor poder aquisitivo.


Conforme já falamos aqui no Raízes, o perfil do leitor brasileiro, em sua maioria, é composto por pessoas mais privilegiadas: brancas, de maior poder aquisitivo, com mais escolaridade e jovens. Logo, fica fácil relacionar o crescimento do varejo de livros a esse perfil predominante de leitores. Que além de suas compras normais, esse ano pode aproveitar o retorno dos eventos literários presenciais para aumentar sua biblioteca pessoal.


Cenário de vendas do livro infantil


O primeiro semestre de 2022 também foi positivo para as vendas de livros Infantil, Juvenil e Educacional, que tiveram um aumento de 4,18% no faturamento, em comparação ao mesmo período de 2021. Chegando a representar 24,8% do faturamento total do varejo de livros brasileiro. O preço dos livros para esse público, também subiu, ficando com uma média de R$42 (+6,38%), por capa.


Olhando para a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019) esse dado faz sentido. Já que ela identificou um número significativo de leitores entre as crianças e adolescentes: de 11 a 13 anos, 81% são leitores, de 5 a 10 anos 71% e 14 e 17 anos 67%. Considerando que esse público está em idade escolar, podemos vincular essa informação com o dado, também apresentado pela pesquisa, de que os principais motivadores para a leitura são o professor (a) e a mãe.


Mas, será que todos os leitores, ou seus responsáveis, dessa faixa etária, teriam poder aquisitivo para aquecer o varejo de livros Infantil, Juvenil e Educacional? Difícil afirmar, primeiro porque de 2019 até 2022 o perfil de leitores pode ter mudado, bem como seus hábitos de leitura e poder de compra. Mas, pelo que vimos até aqui, há indícios de que existe sim uma possível correlação entre o perfil do leitor brasileiro e o aumento das vendas do mercado editorial. O que nos leva a olhar para o outro lado, o dos que não têm acesso ao livro através da compra.


Acesso gratuito ao livro


Ainda olhando para a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019), encontramos uma parcela de classes mais baixas que lê: 53% da classe C e 38% da classe D/E. Para esse público, manter o hábito da leitura é um desafio com o preço médio do livro na faixa dos 40 reais. E é aí que entra a importância das bibliotecas públicas e escolares, que devem servir como fonte de livros de qualidade, diversos de forma gratuita e acessível.


Mas, a realidade é que nem todos os municípios brasileiros contam com uma biblioteca pública, assim como nem todas as escolas públicas possuem esse espaço. Segundo o Anuário Brasileiro de Educação (2019) publicado pela organização Todos Pela Educação, apenas 45,7% das escolas públicas de ensino básico possuem uma biblioteca.


Além desse déficit, nos últimos anos vimos diversas notícias sobre o fechamento de bibliotecas públicas, tornando o cenário ainda pior. De acordo com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP) atualmente o Brasil conta com 5.293, o que não cobre os 5.568 municípios brasileiros.


Sem acesso aos livros de forma gratuita, os jovens leitores acabam buscando alternativas na internet, através de pdfs, sites, blogs e/ou redes sociais. Apesar de ser uma alternativa, não é suficiente para cobrir amplamente a necessidade, uma vez que há uma limitação de obras disponíveis e também porque nem todas as pessoas de classe C, D e E possuem livre acesso à internet.


Tudo isso, reforça a importância e urgência da criação e manutenção de bibliotecas, para cumprirem de fato o seu papel de fornecer livros para comunidade. Nesse sentido, foi criada a Lei 12.244/10, que determinava o prazo de até maio de 2020 para que todas as escolas brasileiras – públicas e privadas – tivessem uma biblioteca, com um acervo mínimo de um título para cada aluno matriculado. Prazo que durante a pandemia foi estendido em dois anos.


Contudo, estamos em 2022 e a lei não atingiu seu objetivo. Pelo contrário, há em tramitação atualmente um projeto de alterações na lei, incluindo uma nova prorrogação de prazo, junto de outros ajustes que visam garantir seu cumprimento, bem como a criação de fiscalização e penalidades.



Dentre os pedidos de edição dessa lei, destaco o de "estabelecer parâmetros mínimos funcionais para a instalação física das bibliotecas; e implementar uma política de acervo que contemple ações de ampliação, guarda, preservação, organização e funcionamento". Ponto de extrema relevância, para que não se criem apenas depósitos de livros, a fim de se cumprir uma meta. Mas sim, sejam elaborados espaços que realmente promovam o acesso a um acervo diverso, de qualidade e com o apoio necessário para o público entenda o propósito, veja valor nesse espaço e se sinta convidado a frequenta-lo.


Principalmente porque, 56% dos brasileiros consideram bibliotecas públicas um espaço apenas para estudar, 6% consideram ser um lugar para estudantes e 10% para emprestar livros para atividades escolares (Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2019). Deixando evidente a necessidade de orientar melhor a sociedade sobre o funcionamento das bibliotecas e do seu direito de frequenta-las e usufruir das atividades e espaços que ela dispõe.


Desafios de acesso ao livro

Por todo esse contexto, fica claro os principais desafios de acesso ao livro no país. No caso da compra de livros, o preço é o maior ofensor. E no caso de acesso gratuito, a falta de bibliotecas públicas e escolares como também o entendimento do público sobre esses espaços.


Olhando com mais atenção para o público infantil e juvenil, que em grande maioria são leitores, inferimos que será difícil manter esse hábito na fase adulta e já estando fora da escola. Uma vez que, seu acesso ao livro será impactado por esses problemas. E provavelmente por isso, vemos uma queda do número de leitores em faixas etárias maiores, principalmente em classes sociais mais baixas.


Todos esses dados que se conectam não devem ser apenas coincidência e é fundamental refletirmos sobre eles. Mesmo que haja muitas iniciativas privadas e de cunho social cobrindo parte desse buraco deixado pelo governo, ao não garantir livros gratuitos; e pelo mercado, pelo alto preço dos livros. Essas ações não têm capacidade de resolver o problema de forma abrangente.


Somente o cumprimento de leis nacionais, de forma estruturada e com constância, poderão ser capazes de mudar esse cenário. E nós, enquanto parte da sociedade que acredita nos livros e na importância de formar novos leitores e cultivar esse hábito ao longo da vida, precisamos conhecer esses cenários. Para estar apto a fiscalizar e cobrar políticas públicas que garantam o acesso ao livro de forma gratuita. Bem como, ações que facilitem toda a cadeia de produção do livro, a fim de torná-lo mais acessível ao público sem prejudicar os negócios em torno do livro, que também tem um papel importante.


 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado dessa leitura.

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Nos vemos no próximo texto 🥰




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