top of page
Post: Blog2_Post
  • Foto do escritorAdriana Ferreira

Reconhecimentos Literários: Academia Brasileira de Letras — Parte I

Atualizado: 30 de abr.

Um panorama da história e funcionamento da principal instituição do meio literário no país, a ABL.

banner-raizes-reconhecimentos-literarios-academia-brasileira-de-letras

Reconhecimentos Literários: Academia Brasileira de Letras — Parte I.


A ABL é uma Instituição privada, idealizada e fundada de forma independente por um distinto grupo de amigos e intelectuais da elite do Rio de Janeiro no início do período democrático brasileiro. 


Em funcionamento há mais de 100 anos, a academia define, sob regras próprias, quem pode participar de seu seleto grupo de imortais e representar o mais alto nível da produção literária no país. 


Ao longo dos anos conquistou notoriedade, respeito e influência que legitimaram a sua a participação em processos importantes relacionados à mudança e preservação do idioma nacional, como novo acordo ortográfico e criação de novas palavras. Como também a responsabilidade de deter, preservar e divulgar o mais rico acervo literário do país, que conta com materiais como originais de Machado de Assis.


Nos últimos anos a ABL tem realizado movimentos que indicam uma modernização e popularização da sua atuação. Fatos como a admissão do cantor e compositor Gilberto Gil e a atriz Fernanda Montenegro, indicam o reconhecimento de artes mais populares e acessíveis, como a música e o audiovisual. Outro destaque, é o reconhecimento dado ao primeiro indígena, Ailton Krenak, empossado em abril deste ano, trazendo mais diversidade para o grupo.


Nesse artigo vamos conhecer a origem e trajetória histórica dessa instituição. 


 

Para facilitar sua navegação, veja os destaques:


Aqui a segunda parte desse conteúdo: Reconhecimentos Literários | Academia Brasileira de Letras — Parte II, que detalha as atividades realizadas pela ABL e qual o processo para escolha dos seus membros.

 

Como tudo começou- história da fundação da ABL

A Academia Brasileira de Letras (ABL) denomina-se uma instituição cultural e privada, que nasceu para cultivar a língua e literatura nacional. 


A ideia da instituição nasceu em um grupo de amigos e escritores, que se reuniam regularmente para discutir literatura, na sede da Revista Brasileira, que desde 1895 funcionava sob a direção de José Veríssimo.  


Segundo registros da própria ABL, a partir da coesão do grupo e o sucesso da revista houve o estímulo para a proposição de uma academia literária nacional, a exemplo da Academia Francesa.


Foi Lúcio de Mendonça, advogado, jornalista, escritor e magistrado do STF, que apresentou formalmente, em meados de 1895, a proposta de abertura da instituição que funcionaria sob gestão do estado. Entretanto, a proposta não foi aceita e o grupo decidiu por atuar de forma independente, criando a ABL como uma instituição privada. 


Assim, em 1896, começam os encontros preparatórios da sua fundação, tendo Lúcio Mendonça, reconhecido pelos outros membros como idealizador e verdadeiro “pai da academia”.


Após alguns meses de planejamento, em 20 de julho de 1897, a ABL é inaugurada no Rio de Janeiro, na época capital do país, em uma sala do museu Pedagogium, localizado na Rua do Passeio. A instituição optou por seguir os mesmos moldes da Academia Francesa e por isso, ficou definida a composição com 40 membros efetivos e perpétuos.


Na ocasião estavam presentes 16 dos 40 acadêmicos que formavam o primeiro grupo de imortais. O primeiro presidente, Machado de Assis, fez um discurso de abertura, seguido das falas de Rodrigo Otávio, 1º secretário, que leu a memória histórica dos atos preparatórios, e o secretário-geral, Joaquim Nabuco, que pronunciou o discurso inaugural.



Discurso de Machado de Assis na abertura da 1a sessão da ABL:


"20 de julho de 1897


Senhores,

Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos.


É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.


Não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância.


A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso.


Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão."


Fonte: Site ABL


O primeiro grupo de imortais

Também identificados como membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, o primeiro grupo de imortais foi formado por intelectuais que participaram da fase preparatória: Araripe Júnior, Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay, Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães.


Para formar 40 membros a exemplo da Academia Francesa foram convidados a juntarem-se ao grupo: Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero, Urbano Duarte, Aluísio Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domício da Gama, Eduardo Prado, Luís Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça. 


Cada membro da academia escolheu um patrono, para homenagear figuras importantes que contribuíram para literatura e cultura antes da fundação da ABL.


Assim, cada cadeira da academia carrega um número e o nome de um patrono homenageado, na relação há nomes como José de Alencar, Castro Alves e José Bonifácio, veja aqui a lista dos 40 patronos da ABL.


Sede da ABL - Petit Trianon e o Palácio Austregésilo de Athayde

A ABL passa a ter uma sede própria apenas em 1923, no Petit Trianon, prédio francês construído em 1922 no Rio de Janeiro, é uma réplica do prédio de mesmo nome, que fica no Palácio de Versalhes-França


Originalmente, o espaço serviu como pavilhão da França na exposição internacional realizada em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Após uso na exposição, o imóvel foi doado à instituição, sendo utilizado até hoje. 


O espaço compreende no primeiro andar:

  • O Salão Francês, local onde o novo Acadêmico cumpre a tradição de permanecer sozinho, em reflexão, antes da cerimônia de posse iniciar.


  • O Salão Nobre, onde acontece a posse dos novos membros, às sessões solenes e às sessões ordinárias comemorativas.


  • A Sala Francisco Alves e a Sala dos Fundadores contam em sua decoração com importantes obras de arte e itens do acervo da ABL e são utilizadas para eventos de lançamentos de livros dos Acadêmicos.


  • Sala dos Poetas Românticos, abre-se para o pátio onde estão os bustos de bronze dos escritores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela e Gonçalves Dias.


  • A Sala Machado de Assis, organizada pelo Acadêmico Josué Montello, abriga objetos pessoais do escritor.

no segundo andar encontramos:

  • A Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça.

  • A Sala de Sessões que exibe a reprodução dos Estatutos da Academia, de 1897, assinados por Machado de Assis, Joaquim Nabuco e membros da Primeira Diretoria. Além de dois paineis com os retratos dos fundadores e dos patronos das 40 Cadeiras da ABL.

  • Salão de Chá, onde os acadêmicos se reúnem às quintas-feiras para tomar um chá e discutir temas da instituição.


Em 1989, o então presidente da ABL inaugurou o Palácio Austregésilo de Athayde, que também se tornou sede da instituição. 


O edifício de 29 andares leva o nome do presidente, que lutou por sua construção visando que a ABL tivesse uma sede imponente e fosse também a base do patrimônio da academia.  


O terreno da construção foi doado pelo governo e a obra realizada a partir de financiamentos. E o aluguel das salas deste edifício, assim como outros imóveis no RJ também recebidos por doação, servem como a principal renda da instituição.


Confira aqui dois vídeos que mostram as estruturas da instituição:



Premiações promovidas pela Academia

Uma das formas da ABL reconhecer e incentivar manifestações culturais em seus diversos aspectos são suas premiações. 


Desde 1909, a academia criou e distribuiu prêmios em diversas áreas: literatura, teatro, poesias, traduções, oratórias e tantos outros. 


Em 1998, a academia realizou mudanças no seu estatuto e deste então, as premiações foram reduzidas para:


  • Prêmio Machado de Assis para o conjunto de obras do escritor(a), título de maior reconhecimento da ABL, com premiação de R$ 100 mil ao vencedor.

  • E os prêmios ABL de Ficção, Ensaio, Literatura Infanto-juvenil, Poesia, Tradução, História e Ciências Sociais, que escolhiam a melhor obra de cada gênero, publicada no ano anterior, com prêmio de R$ 50 mil para cada categoria.


Porém, em 2016, uma nova alteração foi anunciada pela academia: todos os prêmios seriam unificados, sob o nome da premiação principal: Prêmio Machado de Assis. 


Dessa forma, a academia passou a premiar alternadamente escritores de literatura e de outras áreas das ciências humanas, sempre de escritores brasileiros vivos, pelo seu conjunto da obra e com um prêmio de R$ 300 mil. 


A mudança acontece um ano depois da polêmica envolvendo o Prêmio ABL de Poesia, que em 2015 não foi dado a ninguém com a justificativa de que nenhuma publicação do gênero no ano anterior passou pelos avaliadores. A decisão gerou críticas de especialistas e escritores do gênero, que alegavam haver obras de qualidade habilitadas ao prêmio.


O fato é que a Prêmio Machado de Assis, em sua nova versão, só foi concedido em 2017, para João José Reis, referência mundial nos estudos da História e da escravidão. Depois disso, a honraria foi suspensa, sob a alegação de falta de verba por conta da crise. 


Após um hiato de 3 anos, o Prêmio Machado de Assis retornou em 2021, premiando Ruy Castro, em 2022 Roberto DaMatta e em 2023 Marina Colasanti.


O vencedor(a) de 2024 ainda não foi divulgado.

Para acompanhar as atividades da ABL



 
foto-escritora-dri-ferreira-blog-raizes

Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a quem sabe se inscrever na premiação! Para mais textos como esse, continue lendo a série Reconhecimentos Literários.

📨 Se quiser acompanhar as novidades do blog, se inscreva em nossa newsletter, é grátis.

🔗 Se quiser compartilhar esse texto com amigos, use os botões abaixo e leve-o para sua rede social preferida.

Nos vemos no próximo texto 🥰



Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page