No novo texto da série Reconhecimentos Literários apresento o Prêmio Camões, o maior e mais importante prêmio literário da língua portuguesa.
Conheça aqui o Prêmio Camões, mais um Reconhecimento Literário realizado no Brasil.
A premiação, que é a maior e mais importante da língua portuguesa, surgiu em 1988 a partir de um acordo entre Brasil e Portugal. Formalizado pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre os dois governos, a gestão do prêmio fica a cargo da Fundação Biblioteca Nacional com a Secretaria Especial da Cultura (Brasil) e pela Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas com a Secretaria de Estado da Cultura (Portugal).
O nome, Prêmio Camões, é uma homenagem ao grande escritor humanista Luís Camões. E premia o escritor lusófono que mais contribuiu com enriquecimento do patrimônio literário e do idioma português. Além do reconhecimento, o laureado ganha 100 mil euros pagos pelos governos brasileiro e português e um certificado assinado pelos presidentes dos dois países.
Com recorrência anual, o evento de premiação acontece 2 anos em Portugal e 2 anos no Brasil, sucessivamente. O Instituto Camões, que fica em Lisboa, é responsável pelo registro das candidaturas e dos vencedores. Já a escolha dos agraciados é definida por um júri composto de representantes do Brasil, de Portugal e dos países africanos. São ao total 6 membros, com mandato de dois anos e a composição é feita da seguinte forma: 2 integrantes brasileiros, 2 portugueses e 2 dos países africanos.
Concorrem ao prêmio escritores dos países que têm o português como idioma oficial, os chamados países lusófonos. São eles: Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Brasil, Moçambique, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial.
Nove países de diferentes continentes unidos pelo mesmo idioma. Que devido às diferenças culturais podem ter pronúncia, gramática e vocabulário distintos. Juntos, esses países também formam a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, criada em 1996, para a promoção e divulgação do idioma.
Falta de representatividade
Com 34 anos de existência, o Prêmio Camões já consagrou 14 escritores portugueses, 13 brasileiros e apenas 3 moçambicanos, 2 cabo-verdianos e 2 angolanos. Isto é, dentre 34 laureados apenas 7 são africanos.
Uma baixíssima representatividade, criticada por quem quer ver diferentes escritores sendo reconhecidos e recebendo a visibilidade que o prêmio oferece. Sete também é o número de mulheres já reconhecidas pelo prêmio. Sendo que a primeira mulher agraciada foi a escritora brasileira Rachel de Queiroz.
Mais uma vez vemos uma iniciativa literária, de grande relevância e visibilidade, deixando a desejar no quesito inclusão e diversidade.
Polêmicas
O Prêmio literário, devido sua importância e visibilidade, também já foi palco de manifestações políticas gerando algumas polêmicas.
As mais recentes foram a da premiação do escritor Raduan Nassar, em 2016. Que usou seu discurso para criticar o governo de Michel Temer, empossado após o impeachment de Dilma Rousseff. Presente no evento, o ministro da Cultura na época, Roberto Freire, rebateu as críticas e sob as vaias do público presente tentou iniciar um bate boca com o autor e o público, veja aqui.
Outra polêmica recente, envolve o vencedor de 2019 Chico Buarque de Holanda e o certificado de premiação que deve ser assinado pelos presidentes dos governos de Portugal e Brasil. Ao ser questionado sobre a assinatura no prêmio, o atual presidente do Brasil Jair Bolsonaro comentou ironicamente: “Chico Buarque? Eu tenho prazo? Até 31 de dezembro de 2026, eu assino". Isso se deve ao fato do laureado ser um forte crítico do governo de Bolsonaro. O escritor, cantor e compositor por sua vez rebateu: "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões.”
Curiosidade
Ao longo de tantos anos de premiação, apenas um vencedor recusou o prêmio. O escritor angolano, Luandino Vieira, venceu em 2006, mas não quis receber a láurea. Por não ter publicado mais nada há anos achou injusto aceitar e preferia que algum escritor da ativa fosse reconhecido. "Teria sido uma grande injustiça para os escritores que estavam a editar regularmente", disse, à Agência Lusa na época.
Os vencedores
Aqui um breve resumo da lista de vencedores de cada ano, indicando seu país de origem, o júri que participou da escolha e o país onde a premiação ocorreu. A mesma lista está disponível no site da Biblioteca Nacional, o órgão responsável pelo prêmio aqui no Brasil.
2021 • Paula Chiziane
Júri: Júri brasileiro: Jorge Alves de Lima e Raúl Cesar Gouveia Fernandes; Júri português: Ana Maria Martinho e Carlos Mendes de Sousa; Júri de países africanos: Tony Tcheka e Teresa Maria Alfredo Manjate.
País de origem: Moçambique
2020 • Vítor Manuel de Aguiar e Silva
Júri: Júri brasileiro: Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero Correia Lima; Júri português: Clara Rowland e Manuel Frias Martins; Júri de países africanos: Nataniel Ngomane por Moçambique; Ana Paula Tavares por Angola.
País de origem: Portugal
2019 • Chico Buarque de Hollanda
Júri: Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero Correia Lima pelo Brasil; Clara Rowland e Manuel Frias Martins por Portugal; Nataniel Ngomane por Moçambique; Ana Paula Tavares por Angola.
País de origem: Brasil
2018 • Germano Almeida
Júri: Leyla Perrone-Moysés e José Luís Jobim, pelo Brasil; Maria João Reynaud e Manuel Frias Martins, por Portugal; Ana Paula Tavares e José Luis Tavares, pelos países africanos de língua portuguesa.
País de origem: Cabo Verde
Local da premiação: Rio de Janeiro
2017 • Manuel Alegre
Júri: Leyla Perrone Moysés e José Luís Jobim, pelo Brasil; Paula Morão e Maria João Reynaud, por Portugal; José Luis Tavares e Lourenço de Rosário, pelos países africanos de língua portuguesa.
País de origem: Portugal
Local da premiação: Portugal
2016 • Raduan Nassar
Júri: Sergio Alcides e Flora Sussekind, pelo Brasil; Paula Mourão e Pedro Mexia, por Portugal; e Inocência Mata e Lourenço de Rosário, pelos países africanos de língua portuguesa.
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
2015 • Hélia Correia
Júri: Affonso Romano de Sant’Anna, António Carlos Secchin, Inocência Mata, Mia Couto, Pedro Mexia e Rita Marnoto
País de origem: Portugal
Local da premiação: Rio de Janeiro
2014 • Alberto da Costa e Silva
Júri: Affonso Romano de Sant’Anna, António Carlos Secchin, José Carlos de Vasconcelos, José Eduardo Agualusa, Mia Couto e Rita Marnoto
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
2013 • Mia Couto
Júri: Alberto da Costa e Silva, Alcir Pécora, Clara Rocha, João Paulo Borges Coelho, José Carlos de Vasconcelos e José Eduardo Agualusa
País de origem: Moçambique
Local da premiação: Rio de Janeiro
2012 • Dalton Trevisan
Júri: Abel Barros Baptista, Alcir Pécora, Ana Paula Tavares, João Paulo Borges Coelho, Rosa Maria Martelo e Silviano Santiago
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
2011 • Manuel António Pina
Júri: Abel Barros Baptista, Ana Paula Tavares, António Carlos Secchin, Edla van Steen, Inocência Mata e Rosa Maria Martelo
País de origem: Portugal
Local da premiação: Rio de Janeiro
2010 • Ferreira Gullar
Júri: António Carlos Secchin, Edla van Steen, Helena Buescu, Inocência Mata, José Carlos Seabra Pereira e Luís Carlos Patraquim
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
2009 • Armênio Vieira
Júri: Corsino Fortes, Helena Buescu, José Carlos Seabra Pereira, Luís Carlos Patraquim, Marco Lucchesi e Ruy Espinheira Filho
País de origem: Cabo Verde
Local da premiação: Rio de Janeiro
2008 • João Ubaldo Ribeiro
Júri: Corsino Fortes, João Mello, Marco Lucchesi, Maria de Fátima Marinho, Maria Lúcia Lepecki e Ruy Espinheira Filho
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
2007 • António Lobo Antunes
Júri: Domício Proença Filho, Fernando Martinho, Francisco Noa, João Mello, Letícia Malard e Maria de Fátima Marinho
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
2006 • Luandino Vieira
Júri: Evanildo Bechara, Francisco Noa, Ivan Junqueira, José Eduardo Agualusa, Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa Luís e Paula Morão
País de origem: Angola
Local da premiação: Lisboa
2005 • Lygia Fagundes Telles
Júri: António Carlos Secchin, Germano de Almeida, Ivan Junqueira, José Eduardo Agualusa, Maria Agustina Ferreira Teixeira, Bessa Luís e Vasco Graça Moura
País de origem: Brasil
Local da premiação: Rio de Janeiro
2004 • Agustina Bessa-Luís
Júri: Eduardo Prado Coelho, Germano de Almeida, Heloísa Buarque de Holanda, Lourenço do Rosário, Vasco Graça Moura e Zuenir Ventura
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
2003 • Rubem Fonseca
Júri: Eduardo Prado Coelho, Heloísa Buarque de Holanda, Lourenço do Rosário, Maria Isabel da Silva Pires de Lima, Pepetela e Zuenir Ventura
País de origem: Brasil
Local da premiação: Rio de Janeiro
2002 • Maria Velho da Costa
Júri: Alberto da Costa e Silva, Alfredo Bosi, Isabel Allegro de Magalhães, José João Craveirinha, Maria Isabel da Silva Pires de Lima e Pepetela
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
2001 • Eugênio de Andrade
Júri: Alberto da Costa e Silva, Carlos Heitor Cony, Dionysio de Oliveira Toledo, Isabel Allegro de Magalhães, José Manuel Mendes e Maria Irene Ramalho de Sousa Santos
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
2000 • Autran Dourado
Júri: César Leal, José Manuel Mendes, Maria Alzira Seixo, Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, Mário Chamie e Silviano Santiago
País de origem: Brasil
Local da premiação: Rio de Janeiro
1999 • Sophia de Mello Breyner Andresen
Júri: António Alfredo Alçada Baptista, Elmer C. Corrêa Barbosa, Lella Perrone Moises, Luiz Costa Lima, Maria Alzira Seixo e Maria Irene Ramalho de Sousa Santos
País de origem: Portugal
Local da premiação: Salvador
1998 • Antonio Cândido de Melo e Sousa
Júri: António Alfredo Alçada Baptista, Eduardo Portella, Fábio Lucas, Fernando J. B. Martinho, Maria Alzira Seixo e Moacyr Seliar
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
1997 • Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela
Júri: António Alfredo Alçada Baptista, Carlos Nejar, Eduardo Portella, Fernando J. B. Martinho, Nelida Piñon e Óscar Luso de Freitas Lopes
País de origem: Angola
Local da premiação: Lisboa
1996 • Eduardo Lourenço
Júri: Afonso Romano de Sant'Anna, Carlos Reis, Cleonice Berardinelli, Eduardo Portella, Maria Idalina Cobra Pereira Resina Rodrigues e Urbano Tavares Rodrigues
País de origem: Portugal
Local da premiação: Rio de Janeiro
1995 • José Saramago
Júri: Afonso Romano de Sant'Anna, António Torres, Carlos Reis, Márcio de Souza, Maria Idalina Cobra Pereira Resina, Rodrigues e Urbano Tavares Rodrigues
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
1994 • Jorge Amado
Júri: Afonso Romano de Sant'Anna, Carlos Reis, Cleonice Berardinelli, João Ubaldo Ribeiro, Maria Idalina Cobra Pereira e Resina Rodrigues Urbano Tavares Rodrigues
País de origem: Brasil
Local da premiação: Rio de Janeiro
1993 • Rachel de Queiroz
Júri: Arnaldo Niskier, Carlos Reis, Fernando Guimarães, João Escatimburgo, Maria Idalina Cobra Pereira Resina Rodrigues e Óscar Dias Correia
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
1992 • Vergílio Ferreira
Júri: Aníbal Pinto de Castro, Cleonice Berardinelli, Fernando Cristovão, Ivo de Castro, Jorge Fernandes da Silveira e Márcio de Souza
País de origem: Portugal
Local da premiação: Rio de Janeiro
1991 • José Craveirinha
Júri: Afonso Romano de Sant'Anna, Arnaldo Saraiva, David Mourão Ferreira, Jorge Fernandes da Silveira, Luís Augusto de Sampaio Forjaz de Ricaldes Trigueiros e Márcio de Souza
País de origem: Moçambique
Local da premiação: Rio de Janeiro
1990 • João Cabral de Melo Neto
Júri: Afrânio Coutinho, António Houaisse, Eduardo Lourenço, Herberto Salles, Maria de Lourdes Belchior Pontes e Vítor Manuel Pires de Aguiar e Silva
País de origem: Brasil
Local da premiação: Lisboa
1989 • Miguel Torga
Júri: Afrânio Coutinho, Antônio Houaiss, Eduardo Lourenço, Herberto Salles, Maria de Lourdes Belchior Pontes e Vítor Manuel Pires de Aguiar e Silva
País de origem: Portugal
Local da premiação: Lisboa
E se você quer conhecer mais sobre o escritor Luís Camões, o homenageado que deu nome ao Prêmio Camões, confira esse vídeo incrível da Tatiany Leite, do canal Vá Ler um Livro.
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a quem sabe se inscrever na premiação! Para mais textos como esse, continue lendo a série Reconhecimentos Literários.
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