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Foto do escritorAdriana Ferreira

Resenha do livro: Infinito em um Junco, de Irene Vallejo

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Uma narrativa envolvente escrita por uma apaixonada pelos livros e pela leitura, sobre a origem dos livros, que faz cada leitor se apaixonar também.

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Confira a resenha do livro Infinito em um Junco, de Irene Vallejo, com tradução de Ari Roitman, Paulina Wacht, publicado pela Intrínseca em 2022. ​​


Lançado em 2019 na Espanha, Infinito em um junco chegou ao Brasil em 2022. Uma obra imperdível para quem ama livros e tem curiosidade sobre como eles surgiram e se espalharam pelo mundo.


Campeão de vendas internacional, o livro já bateu 600 mil cópias vendidas em castelhano — idioma original — e foi traduzido para 35 idiomas. Em entrevista ao programa Conversa com Bial, em 2022, Irene Vallejo revela surpresa com tamanho sucesso da publicação.


Amante da literatura desde a infância, Irene se formou em filologia e conta que cresceu rodeada de livros, com seus pais lhe contando histórias. Criativamente, eles mudavam o nome das protagonistas pelo de Irene e o nome dos lugares por nome de lugares que ela conhecia, fazendo-a crer que tais histórias haviam sido escritas para ela. Um encanto!


“Embora eu não seja mais aquela criança, escrevo para que as histórias não acabem. Escrevo porque não sei costurar nem fazer tricô; nunca aprendi a bordar, mas tenho fascinação pela urdidura delicada das palavras. Conto minhas fantasias enoveladas com sonhos e lembranças. E me sinto herdeira dessas mulheres que sempre teceram e desteceram histórias. Escrevo para que não se arrebente o velho fio de voz”.

Por acreditar que a literatura consegue encantar e conversar com o leitor, como uma história escrita especialmente para ele, a autora transfere essa experiência mágica para seu livro. Revelando a intenção de fazer o leitor se sentir em uma roda ouvindo uma história de suspense e revelações surpreendentes.


Uma aventura em busca da origem do livro


O fio condutor desse ensaio romanceado é a invenção do livro, mas temos nessa obra muito mais que isso… Irene, nos presenteia com uma rica e encantadora aula de história, sobre a humanidade, as primeiras civilizações, seus meios de exercer o poder, de fazer política e de se relacionarem entre si.


Tirando o conteúdo teórico da academia — com muita informação, datas, fatos — e transformando-os em uma narrativa leve e interessante, com ritmo, bom humor e sagacidade.


Criando uma atmosfera de aventura e mistério, para nos conduzir, como se fossemos o protagonista da história, em um passeio pela Grécia e Roma antiga.


“Tanto os camponeses, que se sentaram à porta de suas cabanas para observar; quanto os mercenários e os bandidos certamente abririam os olhos de espanto e a boca de incredulidade se soubessem o que aqueles estrangeiros a cavalo estavam perseguindo. Livros, eles procuravam livros”.

É muito gostoso ler, acompanhar suas descobertas, ouvir suas suposições e rir de suas ironias. Afinal, há problemas que acompanham a humanidade há tanto, mas tanto tempo, que só rindo mesmo.


Sem falar das diversas obras citadas ao longo do texto, que nos inspiram a seguir aprendendo mais sobre esse universo — e aumentando nossa lista de livros para ler.



Os Primeiros livros


“Os livros são filhos das árvores, que foram lar da nossa espécie e, talvez, o mais antigo receptáculo das palavras escritas”.

Nessa viagem pelo mundo dos livros, conhecemos desde as primeiras histórias ficcionais criadas na tradição oral até a criação de suas versões escritas, onde foram imortalizadas — ou quase.


Irene nos conta sobre os primeiros símbolos que permitiram esses registros e que, podemos dizer, formaram os primeiros alfabetos dos primeiros idiomas. Como também os primeiros suportes para a escrita que foram evoluindo de pedras, para argila, depois para tabuinhas enceradas, para o papiro (feito de junco), o pergaminho (feito de peles de animais) até chegar no papel.


As primeiras versões das profissões em torno do livro também são apresentadas: escritores, que migraram da tradição oral para a escrita, bibliotecários, responsáveis por organizar e preservar as obras nas primeiras bibliotecas, e livreiros, ambulantes que visitavam vilarejos oferecendo livros e convidando à leitura.


A posição social de cada pessoa já influenciava quem tinha acesso à escrita, a livros e a leitura. E isso, consequentemente, impactou na formação de privilegiados grupos de intelectuais que podiam escolher como transmitir isso de geração em geração.


Contudo, um aspecto curioso é que num mundo sem prensa e impressora, a replicação de obras, acontecia de forma totalmente manual, palavra por palavra. E esse trabalho era realizado por pessoas escravizadas, normalmente prisioneiros de guerra, já que ser letrado era um privilégio.


Um marco na história


Para Irene, quando a humanidade pôde registrar suas ideias, relatos e histórias, acelerou-se o progresso mundial. Pois, dessa forma, passamos a consultar o que já havia sido descoberto e evoluir a partir daquele ponto, sem a necessidade de aprender ou descobrir de novo o que nossos antepassados já sabiam.


Para ela, como mágica, os livros nos permitiram falar com os mortos, conversar com mentes de outros tempos, nos fazendo também conhecer outras realidades, culturas, formas de vida.


O que, mais que entreter, nos deu a oportunidade de compreensão do mundo. Despertando o senso crítico, a empatia, tornando quem lê mais autônomo e capaz de articular seus pensamentos e emoções. Como também, proporcionando o entretenimento, o prazer e as mais diversas reflexões.


“Os habitantes do mundo antigo estavam convencidos de que não é possível pensar bem sem falar bem: “os livros fazem os lábios”, afirmava um ditado romano”.

Conjuntura que torna o livro tão importante e necessário para a construção da sociedade e da democracia. Mas, seu valor e poder também os tornaram alvos, daqueles que não desejam ver a sociedade autônoma, crítica e livremente feliz. Desde o início da sua história há registros de censuras, destruição e julgamento do que seriam livros bons e ruins.


Com o surgimento das bibliotecas tivemos outra mudança social significativa: esses espaços, além de fazerem o possível para preservar os livros, também os tornaram acessíveis para todos que quisessem consultá-los.


Livros perseguidos desde sempre


Ao abordar a fragilidade dos livros, Irene não fala somente dos primeiros materiais em que era composto, mas principalmente pela perseguição que sofrem desde sempre.


“Os livros têm voz e sua voz salva épocas e vidas”.

Inicialmente, segundo a autora, os livros eram vistos como uma ameaça — como foi o rádio, a TV e a internet — por importantes pensadores. Sócrates, por exemplo, alegava que com livros nosso conhecimento ficaria fora de nós, em um armazenamento externo, destruindo nossa capacidade de absorver e guardar aprendizados.


A representação simbólica dos livros também sempre esteve carregada de desconfiança, preconceitos, vista e questionada para além de seu conteúdo. Quando era conveniente, os livros eram bons, despertavam o intelecto, encantavam; quando não, eram criticados, uma afronta, uma ameaça que precisava ser eliminada.


Assim, surgiu a censura de livros, a mercê do interesse de quem estava no poder — ora governantes autoritários, ora a igreja. Fazendo com que livros e bibliotecas fossem queimados ou proibidos desde o início das civilizações.


A (re)existência dos livros


Nesta aventura pela história dos livros, fica evidente o quanto eles evoluíram e resistiram ao longo de séculos e séculos.


Para a autora, os livros são o veículo da palavra, algo essencial para o exercício político, registros históricos, transformação e evolução da humanidade. Nos permitindo dialogar, na esperança de termos outros recursos, que não guerras, para a resolução de conflitos.


Apesar das perseguições, censura e a invenção de outros meios que transmitem histórias os livros não desapareceram. Sua capacidade de envolver e ser suporte de verdadeira transformação, interna e coletiva, conquistam leitores apaixonados que perpetuam a sua existência.


E ao que tudo indica, não vão desaparecer nunca. Eles seguem evoluindo, se adaptando a novos formatos e relevantes como principais instrumentos de aprendizado.


“O livro resistiu à prova do tempo, demonstrou ser um maratonista. Todas as vezes ao longo da história que nos despertamos dos sonhos das nossas revoluções ou do pesadelo das nossas catástrofes humanas, ele continuava lá. Como diz Umberto Eco, o livro pertence à mesma categoria que a colher, o martelo, a roda e a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer nada melhor”.


Vida longa aos livros! E a Irene com sua forma encantadora de nos contar histórias.


Deixo aqui o link para adquirir o livro e ainda ajudar o Raízes: Infinito em um Junco, na Amazon.

 
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Obrigada por ler! 🤓

Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.

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Nos vemos no próximo texto 🥰



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