Um relato profundo sobre a relação de uma filha com seus pais, narrada por uma escrita única, que mais parece uma dança.
Confira a resenha do livro: Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei e publicado pela Companhia das Letras em 2021.
Um pai ausente, descontente com o casamento e sem interesse pela criação e educação da filha, busca a liberdade. Uma mãe insegura e abandonada, busca no controle, violência e autoritarismo manter o que lhe resta por perto. Júlia, a filha, se despede de sua infância e ingenuidade em um ambiente conturbado, agressivo e sem nenhuma orientação.
Personagens construídos de forma tão verossímil que poderíamos encontrá-los ao nosso lado, ou em algum aspecto, dentro de nós. Um homem que não reconhece mais a sua esposa. Uma mulher que insatisfeita com o rumo da vida, já não se reconhece mais. Uma jovem que sem base familiar se vê sozinha e perdida.
Na história, Júlia, vai aprendendo com a vida e as pessoas que encontra pelo caminho, como amadurecer, se relacionar e lidar com suas emoções. Revelando como a relação com os pais moldou quem ela é e como carrega essas marcas, ao mesmo tempo em que busca se refazer.
"As brigas dos meus pais foram virando o chão onde nós pisávamos. O silêncio da casa era sempre uma fermentação para o que viria e até mais angustiante do que os gritos quando tudo estourava…"
Filha única de um casamento fracassado que resultou em separação, ela vai construindo suas relações da forma que aprendeu, às vezes com violência, outras com distanciamento. Sofre por não entender a razão das coisas serem como são, por ver outros jovens terem relações diferentes com seus pais.
Pensa no que pode ter feito de errado e encontra na escrita de um diário mais que um refúgio, mas uma esperança. Ao colocar suas vivências no papel ela descobre o processo de autoconhecimento que a permite se encontrar e aceitar que algumas coisas simplesmente são como são. Para então, tomar as rédeas de sua vida e descobrir que pode ser alguém diferente daqueles que a trouxeram ao mundo.
"...mas entre minha mãe e mim existe uma diferença brutal, que é a culpa".
Com o distanciamento necessário, consegue ver seus pais com outros olhos, compreender e perdoar, buscando conviver com eles como for possível. A partir do afastamento da mãe, consegue compreendê-la melhor como mulher. A pouca convivência com o pai, a faz enxergar um novo homem cada vez que se encontram.
Um livro tocante, mas sufocante em alguns momentos, que Aline escreveu tão lindamente, conseguindo transmitir de forma precisa o turbilhão de sentimentos e transformações de sua protagonista. Coreografia do Adeus é sobre descobertas, sobre conseguir compreender algumas coisas, aceitar ou não, mas principalmente: seguir em frente apesar de tudo.
Com um texto de ritmo único, espaço para os silêncios que dizem tanto e com falas tão impactantes que fazem perder o fôlego. A leitura gera reflexões sobre como as relações familiares nos marcam tão intensamente. E mostra, que enfrentar isso requer muito mais que coragem, exige muito amor! Por si mesmo, pela vida e por tudo que se pode fazer com ela.
"Àquela altura a única coisa que eu cultivava era a saudade e também uma sede de vida".
Uma experiência de leitura muito, muito especial, sobre se despedir para se libertar. Recomendo demais!
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Link para compra do Livro: O peso do pássaro morto, de Aline Bei, em breve resenha por aqui!
Link para o episódio: "as muitas despedidas de um abandono" do Podcast Bom dia, Obvious, que entrevistou a autora Aline Bei durante o encontro do Clube do Livro Obvious + Submarino.
Obrigada por ler! 🤓
Espero que tenha gostado e se inspirado a ler o livro.
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Nos vemos no próximo texto 🥰
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